Filme - "Onde fica a casa de meu amigo?"

 

            O filme conta a saga de Ahmad, um garotinho que é estudante numa vila pobre de Koker (ao norte de Teerã, capital do país). Sem querer, ele pega o caderno do colega de sala e o leva para casa. Ao se preparar para fazer o dever, percebe o erro e lembra-se de que tal colega já estava em débito com o professor e não poderia mais deixar esquecer de entregar a tarefa. Ele vai até uma vila nos arredores com o intuito de encontrá-lo para devolver o caderno chegando lá, encontra-se com diversos moradores e vivencia o dia-a-dia de cada um  num ritmo lento e extremamente real.

            O filme de Abbas nos aproxima tanto da realidade que a sensação é que isso vai acontecer na próxima esquina, os filmes embasados em poemas trás essa notória realidade, através da simplicidade de um garoto que com apenas um nome acha que vai encontrar alguém do outro lado da cidade mesmo cheio de dificuldades e tropeços essa virtude supera qualquer enigma qualquer negatividade que atrapalha quando  estar diante de realizar o seu  grande objetivo.

            No desejo de encontrar a casa do amigo a frágil maturidade do garoto nos espelha os sofrimentos do mesmo sempre com um coração enorme que ajuda e obedece,  os que mais necessita de sua ajuda . Desse modo a objetividade encontrada no filme de Abbas gera claramente a critica social e expõem os pensamentos das pessoas que o observa tornado sua obra a mais emocionante e comovente dentre muitas.

 

Filme - "Close-up"

 

        Em 1990 Hossain Sabzian, um homem desempregado e obcecado por cinema fez-se passar pelo realizador Mohsen Makhmalbaf e acomodou-se na casa de uma família abastada, chegando a pedir-lhes dinheiro. Quando a família descobriu, mandou prende-lo e processou-o. Abbas Kiarostami e o verdadeiro Makhmalbaf descobriram esta história através duma reportagem de uma revista e, fascinados, decidiram fazer um filme a partir dela. Primeiro foram à esquadra da policia onde Sabzian estava preso para conhecer mais detalhes do caso. Depois foram falar com a família Ahankhah. Kiarostami tocou à campainha e foi atendido pela filha da família. Quando o realizador se apresentou, ela pediu logo uma identificação pois livraram-se dum falso Makhmalbaf e não precisavam dum falso Kiarostami. Ele não tinha identificação mas tinha algo melhor, o verdadeiro Makhmalbaf. Depois duma longa conversa entre os cineastas e a familia, acompanhada de chá, Kiarostami surpreendeu todos com a ideia de todos os intervenientes na história interpretassem os seus próprios papeis no filme, incluindo ele próprio.
        Esta ideia levou a um dos mais fascinantes filmes da história do cinema. É uma ficção que conta uma história real mas também um documentário sobre a sua realização. A cada momento a realidade e a sua representação se entrelaçam, fazendo o espectador viver os eventos como ele próprio fosse uma personagem que apenas observa e tira as suas conclusões. Na cena em que Sabzian conhece a mãe da família no autocarro, não estamos a ver actores profissionais a representarem uma cena verídica, nem vemos os próprios a narrarem os factos mas sim a representarem e a reviverem o momento. O espectador, consciente disto, sente e vive a cena como se fosse real. Mas não é. É uma representação do real.
        Porém, mais do que representar a realidade, Kiarostami manipula-a para chegar à verdade. A cena do julgamento, filmada em 16mm para dar um tom mais documental e verídico, é o maior exemplo disto. Mais do que filmar, o realizador orquestrou toda a cena, pedindo ao juiz para fazer determinadas perguntas e mesmo ele próprio perguntando, até obter as respostas que queria e estavam no inconsciente de Sabzian. Um processo que geralmente dura uma hora estendeu-se até dez horas. E no fim até conseguiu convencer o família a perdoar o acusado.
Outro exemplo da manipulação da realidade é a cena em que os dois Makhmalbaf, o verdadeiro e o falso, se conhecem. Filmada de longe e com o som captado por um microfone no casaco do verdadeiro, Kiarostami simula uma avaria técnica, levando o espectador a observar as imagens e os gestos. É uma sequência de grande impacto dramático.
        Numa entrevista Kiarostami revela que, para ele, a realidade transcende o cinema e é muito mais fascinante. Este fascínio explica toda a produção deste filme e até a sua montagem. A primeira versão tinha uma narrativa mais cronologica. Numa exibição no Festival de Munich, o projeccionista trocou as bobines e exibiu o filme pela ordem errada. O realizador então percebeu que a história tinha mais impacto se fosse contada não tão cronologicamente mas mais pelos pontos de vista das várias personagens, fazendo o espectador identificar-se mais com elas. Remontou o filme e lançou a versão que é hoje conhecida.
        Closeu-up foi um filme que revolucionou o cinema iraniano. Demarcou-se de um neo-realismo suave que era a sua imagem de marca e chegou aos festivais internacionais de cinema. No inicio foi ignorado por grandes festivais como Cannes ou Nova York mas foi sendo notado gradualmente, ganhando prémios em Montreal e Rimini. Atualmente é considerado um dos melhores filmes iranianos de sempre e está nos primeiros lugares nas listas dos melhores filmes da década de 1990.

 

 

 Abbas Kiarostami: o cineasta do nada e do tudo

 

(texto de Marcelo Miranda em Digestivo Cultural /Juiz de Fora 10/01/2005)

 

        Nada acontece nos filmes de Abbas Kiarostami. Tudo acontece nos filmes de Abbas Kiarostami. Afirmações paradoxais, mas que definem de forma resumida e certeira o que é, na essência, o tipo de cinema feito por esse diretor iraniano prestigiado, elogiado e premiado.
        Kiarostami é a antítese do grande cinemão dos EUA, fincado na idéia de que os filmes devem contar uma historinha com introdução, desenvolvimento, clímax e conclusão, sem deixar praticamente nada para o próprio espectador, mastigando e engolindo tudo de uma vez. Kiarostami segue caminho inverso. Adepto da não-narratividade, seus filmes têm sempre um ponto de partida, mas jamais um de chegada.
        A narrativa de Abbas Kiarostami é até linear, segue os passos dos personagens, respeita a linha temporal. Simplesmente não há grandes ações ou acontecimentos, não existem momentos de adrenalina, quase não há conflitos a serem resolvidos. As coisas apenas acontecem.
        E é aqui que chegamos ao "tudo acontece" de Kiarostami. Se a impressão inicial é de um cinema chato e parado (levando em consideração os padrões e critérios impostos ao grande público pelos filmes-espetáculo), basta olhar com atenção para perceber suas intenções e sentimentos. O que dá maior significado ao cinema de Kiarostami é o movimento. Em praticamente todos os seus filmes, o carro é peça-chave da não-narratividade. Para Abbas, o carro não é veículo de perseguição ou caçadas. É objeto catalisador de curiosidades, investigação, descobertas, inserção em novos universos, realidades e desejos. Onde há um carro em Kiarostami, há alguém querendo informações. Onde há um passageiro, há alguém fazendo perguntas. Onde há um entrave na estrada, há alguma obra tentando